quarta-feira, 30 de junho de 2010

Selos preenchem lacuna deixada por gravadoras em crise, lançando artistas novos e já consagrados

O Globo ( http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/06/25/selos-preenchem-lacuna-deixada-por-gravadoras-em-crise-lancando-artistas-novos-ja-consagrados-916984187.asp )


Independentes Selos preenchem lacuna deixada por gravadoras em crise, lançando artistas novos e já consagrados

Plantão
Publicada em 27/06/2010 às 10h11m
Marcella Sobral

Capa do disco da banda Lafayette e os Tremendões / Divulgação

RIO - Até a virada do século, era preciso um exército para lançar um disco: produtor, executivo, divulgador, distribuidor, um sem-fim de técnicos, estúdios de gravação e até um roadie para levar aquelas baterias sem graça aos programas de TV. A grana sumiu, o mercado encolheu, mas o show não pode parar, e, hoje, um outro exército - muitas vezes de um homem só - trabalha pesado para ocupar esse espaço: o dos selos independentes.

- Independentes são as gravadoras, que não dependem de ninguém para divulgar os seus artistas. Nós dependemos - brinca Marcelo Fróes, do bem-sucedido selo Discobertas, que tem no catálogo desde nomes consagrados, como Zé Ramalho e Angela Ro Ro, a novas vozes, como a cantora Luen. - Fazemos um trabalho de formiguinha, investindo em redes sociais, mídia espontânea...

Assim, os artistas vão experimentando, se reinventando e reconquistando um lugar ao sol.

- O movimento tem sido esse, formando parcerias, projeto a projeto, até a indústria engrenar num formato forte novamente - acredita Constança Scofield, do selo Toca Discos, que lançou o disco solo de Érika Martins e o último CD da banda Carbona. - Agora estamos em estúdio com o ex-titã Charles Gavin produzindo o novo do Canastra.

Em alguns casos, essas parcerias são igualitárias, 50% do artista, 50% do selo, como é o caso do Soma, que tem artistas como Lafayette & Os Tremendões e Nervoso e os Calmantes.

Enquanto as grandes gravadoras continuam investindo pesado em poucos artistas, os selos preferem apostar em nichos, com tiragens menores e verba de marketing quase inexpressiva.

- Certos artistas se vendem sozinhos. Com ou sem publicidade, vai acontecer alguma coisa - acredita Fróes que, sem a pressão do mercado, se dá ao luxo de trabalhar com artistas de que realmente gosta. - Fazer um produto de qualidade é o mais importante.

Se a solução é boa para quem produz, também vale a pena para quem quer fazer barulho. Com o achatamento da indústria, as equipes das grandes gravadoras foram reduzidas. Resultado: existe menos gente hoje para cuidar do casting. Um artista novato acaba tendo, portanto, que disputar atenção com gente como Ivete Sangalo. Uma batalha quase inglória.

- No selo, o artista tem mais atenção. Pensamos nele como um todo, não apenas no lançamento de um CD. Investir em nomes novos é montar um catálogo para o futuro - explica Bernardo Palmeira, do Bolacha Discos, que tem artistas como Letuce e qinhO.

Agora sem o chamariz pop Toni Garrido à frente da banda, o Cidade Negra, que já pertenceu ao casting da Sony, lançou seu último disco pelo recém-criado selo Kamikaze, uma iniciativa do produtor Nilo Romero.

- O disco estava pronto há um ano, e nenhuma gravadora se interessou em lançar. Então, resolvi criar o meu próprio selo - lembra Nilo, que acompanhou todas as etapas do projeto, desde o estúdio até o produto final. - Com um artigo só é possível trabalhar de forma mais consistente.

Este ano, um dos selos independentes mais tradicionais do indie rock nacional, o midsummer madness, completa 21 anos. No catálogo, 110 EPs e 26 CDs.

- Começamos lançando fita cassete, migramos para o CD-R, fomos para o CD e para o online - conta Rodrigo Lariú, sócio do midsummer. - Antes, nós contratávamos as bandas. Agora, elas são nossas parceiras.

A estrutura de distribuição, que as gravadoras dominavam, a cada dia que passa ganha outra dimensão. A internet e as redes sociais, afinal, tornaram-se poderosas ferramentas para realizar esse trabalho. No passado, era preciso estar associado a alguma gravadora para ter seus discos nas prateleiras das lojas. Hoje, quando as próprias lojas praticamente já não existem mais, o que vale é divulgar o link ou email em que o produto pode ser encontrado, além de vender discos em shows ou mesmo bater de porta em porta para deixar um exemplar.

- Como hoje existem poucas lojas de discos, fica mais fácil fazer distribuição independente - defende Gabriel Thomaz, do selo Gravadora Discos, especializado em vinil, que já colocou nas ruas EPs do Daniel Beleza e acaba de lançar o "Samba-rock do Bacalhau", dos Autoramas.

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